Remédio Amargo para uma Doce Cura
O homem foi convocado a comparecer perante o rei. Com pernas trêmulas, dirigiu-se ao palácio, certo de que sairia de lá para a prisão ou para o cativeiro. Devia ao seu senhor uma quantia que jamais poderia pagar. As perspectivas mais sombrias se projetavam sobre ele e toda a família. Como era costume no país, era bem provável que todos eles fossem vendidos como escravos a fim de pagar com seus serviços pelo resto da vida o que não podiam pagar com dinheiro.
Sua única esperança, tênue à luz da enormidade da quantia devida, era saber que o rei gozava bem merecida fama de ser um governante misericordioso e justo. Talvez se clamasse por mercê fosse ouvido e recebesse outra oportunidade de evitar a desgraça da família.
Os guardas o levaram até a sala do trono quase arrastado pois suas pernas se recusavam a carregar o corpo amolecido pelo pavor. Diante do rei, teve de admitir que não tinha como saldar a dívida, nem parte dela. Lançando-se aos pés do soberano, com o rosto em terra, clamou por misericórdia.
-- Senhor, seja paciente comigo e pagarei tudo o que lhe devo.
O rei fitou-o com profunda compaixão, bem consciente de que o homem jamais conseguiria quitar a enorme quantia. As palavras seguintes soaram como um sino repicando aos ouvidos do suplicante:
-- Pode ir. Você está livre. Nada me deve. Sua dívida está perdoada.
O coração aos pulos, o homem foi se afastando numa atitude respeitosa enquanto estava diante do rei. Assim que saiu do aposento, voltou-se para a saída aos pinotes, Estava livre!!
Descendo a escadaria do palácio, encontrou um companheiro que lhe devia uma pequena soma. De repente, sua alegria se evaporou como minúscula gota de orvalho em manhã de sol quente. Aquele homem era um dos motivos de ele ter-se endividado tanto. Fora generoso, emprestando aos que lhe haviam pedido. Entretanto, não conseguia se lembrar de pagamento algum. Uma fúria súbita irrompeu em seu peito. Ali estava a causa de todos os seus males!!
Agarrando o companheiro pelo pescoço, ameaçava sufocá-lo. O homem foi ficando roxo, apoplético. Enquanto o sacudia e esganava, o atacante berrava:
-- Trate de pagar agora mesmo o que me deve, seu safado!
O outro finalmente conseguiu soltar-se e caiu aos pés do amigo:
-- Por favor, seja paciente comigo e eu lhe pagarei.
Mas ele não quis. Insensível aos apelos e às lágrimas do outro, o primeiro servo chamou os guardas e mandou que o devedor fosse levado preso.
Algumas pessoas, que presenciaram as duas cenas foram procurar o rei para relatar o acontecido. A reação do soberano não se fez esperar. Mandando chamar de novo o homem que havia perdoado, confrontou-o com sua maldade.
-- Que grande mal você praticou! Quando me suplicou, perdoei a enorme quantia que me devia. Não seria de esperar que mostrasse a mesma compaixão para com aquele que lhe devia uma quantia muito menor?
Voltando-se para os guardas, o rei ordenou que aquele homem fosse entregue aos verdugos, ou torturadores, até que toda a dívida fosse quitada.
Essa história, registrada em Mateus 18:23-35, foi contada por Jesus para ilustrar a importância do perdão. Ele ensinava aos discípulos sobre as dificuldades nos relacionamentos, inclusive a questão de como restaurar o irmão culpado de um erro. Os rabinos ensinavam que se devia perdoar uma falta repetida até três vezes. O apóstolo Pedro, entretanto, achou que deveria ser mais generoso. Perguntando quantas vezes deveria perdoar o irmão que pecasse contra ele, acrescentou :
-- Até sete vezes, Senhor?
A resposta de Jesus foi surpreendente. Não sete, disse Ele, mas setenta vezes sete. Ou seja, sempre. Sem limites. E em seguida contou essa história.
Não era a primeira vez que Jesus usava o conceito de dívida ao ensinar sobre o perdão. Em Mt 6:12, ele mostrou como devemos orar, dizendo: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores.” No final da oração, Ele deixa bem claras as conseqüências de não perdoarmos a quem nos ofende. Se não perdoarmos, não seremos perdoados. E como vimos na história do credor incompassivo, nosso destino será o de viver nas mãos dos atormentadores.
Como está a sua vida neste momento? Seu coração está cheio de amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, mansidão e domínio próprio ou está cheio de inquietação, angústia, raiva, ressentimento, amargura?
As primeiras características citadas são fruto do Espírito, produzidas pela vida de Cristo em nós. As segundas, frutos da carne, que são o resultado de uma vida em que o Espírito Santo está impedido de atuar em nós, ignorado ou rejeitado em sua missão. Uma das coisas que bloqueia a ação do Espírito em nossa vida é a falta de perdão. E a inquietação, a angústia, a raiva, o ressentimento e a amargura são os atormentadores que se instalam em nosso coração para nos perturbar e impedir de gozarmos a liberdade que o perdão traz. Perdoar é libertar um prisioneiro e depois descobrir que esse prisioneiro é você.
Se você quiser ser verdadeiramente livre e ter uma vida em que predomine o fruto do Espírito, tem de aprender a perdoar.
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